quinta-feira, 19 de novembro de 2009

BALANÇO FINAL (Simone de Beauvoir)

Cada manhã, antes mesmo de abrir os olhos, reconheço minha cama, meu quarto. Mas se durmo à tarde, em meu estúdio, experimento às vezes, ao acordar, um espanto pueril: por que sou eu? O que me surpreende - como à criança quando toma consciência de sua própria identidade - é o fato de encontrar-me aqui, agora, dentro dessa vida e não de uma outra: por que acaso? Se a considero do exterior, em primeiro lugar parece inacreditável que eu tenha nascido. A penetração de um determinado óvulo por um determinado espermatozóide, os seus ancestrais, não tinha uma chance entre milhares de ocorrer. Foi um acaso, conforme o estado atual da ciência, totalmente imprevisível que me fez nascer mulher. Depois para cada instante de meu passado mil futuros diferents me parecem concebíveis: adoecer e interromper meus estudos; não conhecer Sartre; qualquer outra coisa (Beauvoir, Balanço final).
nota: aqui, Simone de Beauvoir fala sobre o nascimento ea história, as circunstâncias ou a especificidade das ações humanas, o destino ou a liberdade, temas privilegiados pelos existencialistas.

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Fontes: CHALITA, Vivendo a Filosofia, p.361)

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