sábado, 27 de fevereiro de 2010

FRAGMENTOS (Pre socraticos)

Fragmentos[1]

Tales de Mileto (c. 624-574 a.C): (Doxografia)
1- Tales afirmava que a terra flutua sobre a água. Mover-se-ia como um navio; e quando se diz que ela treme, em verdade flutuaria em conseqüência do movi­mento da água. (Sêneca. Nat. Quaest. 111,4)
2- Outros julgavam que a terra repousa sobre a água. Esta é a mais antiga doutrina por nós conhecida e teria sido defendida por Tales de Mileto. (Aristóteles. De Coelo. 813, 294a 28)
3- A maior parte dos filósofos antigos concebia somente princípios materiais como origem de todas as coisas ( ... ) Tales, o criador de semelhante filosofia, diz que a água é o princípio de todas as coisas. (Aristóteles. Metafísica. 1,3).

Anaximandro (c.547-610 a.C):
1- Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a necessi­dade; pois pagam umas às outras castigo e expiação pela injustiça, confor­me a determinação do tempo.
2- O ilimitado é eterno.
3- O ilimitado é imortal e indissolúvel.
Anaxímenes de Mileto (c.585 a.C-c.528-525 a.C):
1- Como nossa alma, que é ar, nos governa e sustém, assim também o corpo e o ar abraçam todo o cosmos.

Heráclito de Éfeso (séc. VI a.C):
8- Tudo se faz por contraste: da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia. 10- Correlações: completo e incompleto, concorde e discorde, harmonia e desar­monia, e de todas as coisas, um, e de um, todas as coisas.
12- Para os que entram nos mesmos rios, correm outras e novas águas. Mas tam­bém são exaladas do úmido.
49a- Descemos e não descemos nos mesmos rios; somos e não somos.
50- (Heráclito afirma a unidade de todas as coisas: do separado e do não separado, do gerado e do não gerado, do mortal e do imortal, da palavra (Iogos) e do eterno, do pai e do filho, de Deus e da justiça). É sábio os que ouviram, não a mim, mas as minhas palavras (Iogos), reconheçam que todas as coisas' são um.
88- Em nós, manifesta-se sempre uma e a mesma coisa: vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice. Pois a mudança de um dá o outro e reciprocamente.

Pitágoras (séc. VI a.C): (Doxografia)
4- O que Pitágoras dizia a seus discípulos, ninguém pode saber com segurança, pois nem o silêncio era casual entre eles. Contudo, eram especialmente conhe­cidas, conforme o juízo de todos, as seguintes doutrinas: 1) a que afirma ser a alma imortal; 2) que transmigra de uma a outra espécie animal; 3) que dentro de certos períodos, o que já aconteceu uma vez, torna a acontecer, e nada é absolutamente novo, e 4) que é necessário julgar que todos os seres animados estão unidos por laços de parentesco. De fato, parece ter sido Pitágoras que introduziu por primeira vez estas crenças na Grécia.

Parmênides de Eléia (séc. VI-Va.C):
3- Pensar e ser é o mesmo.
6- Necessário é dizer e pensar que só o ser é; pois o ser é, e o nada, ao contrário, nada é: afirmação que bem deves considerar. ( ... )
8- Resta-nos assim um único caminho: o ser é. Neste caminho há grande número de indícios: não sendo gerado, é também imperecível; possui, com efeito, uma estrutura inteira, inabalável e sem meta; jamais foi nem será, pois é, no instante presente, todo inteiro, uno, contínuo. Que geração se lhe poderia encontrar? Como, de onde cresceria? Não te permitirei dizer, nem pensar o seu crescer do não-ser. Pois não é possível dizer nem pensar que o não-ser é. Se viesse do nada, qual necessidade teria provocado seu surgimento mais cedo ou mais tarde? Assim pois, é necessário ser absolutamente ou não ser. ( ... )

Anaxágoras (c.500-428 a.C):
1- Todas as coisas estavam juntas, ilimitadas em número e pequenez; pois o pequeno era ilimitado. E enquanto todas as coisas estavam juntas, nenhuma delas podia ser reconhecida devido a sua pequenez. Pois o ar e o éter preva­leciam sobre todas as coisas, ambos ilimitados. Pois, no conjunto de todas as coisas, estas são as maiores, tanto em quantidade como em grandeza.

Diógenes de Apolônia (séc. Va.C):
1- Quem começa um discurso, deve, parece-me, tomar um ponto de partida incontestável e exprimi-Io de maneira simples e digna.
2- A minha maneira de ver, para tudo resumir, é que todas as coisas são dife­renciações de uma mesma coisa e são a mesma coisa. E isto é evidente. Porque se as coisas que são agora neste mundo - terra, água, ar e fogo e as outras coisas que se manifestam neste mundo -, se algumas destas coisas fosse diferente de qualquer outra, diferente de sua natureza própria, e não permanecesse a mesma coisa em suas muitas mudanças e diferenciações, então não poderiam as coisas, de nenhuma maneira, misturar-se umas às outras, nem fazer bem ou mal umas às outras, nem a planta poderia brotar da terra, nem um animal ou qualquer outra coisa vir à existência, se todas as coisas não fossem compostas de modo a serem as mesmas. Todas as coisas nascem, através de diferenciações, de uma mesma coisa, ora em uma forma, retomando sempre à mesma coisa.

Demócrito de Abdera (c.460-370 a.C):
3- Aquele que quiser viver em tranqüilidade não se deve agitar demasiado, nem em sua vida particular, nem em sua vida coletiva; o que faz, não deve ir além de sua própria força e de sua natureza; e deve tomar cuidado para que quando vier a fortuna e tentar seduzi-I o, através de sua opinião, à desmedida, possa afasta-Ia e guardar somente aquilo que estiver de acordo com suas forças. Pois a plenitude comedida é mais segura do que a desmedida.
181- Melhor (educador) para a virtude mostrar-se-á aquele que usar o encorajamento e a palavra persuasiva, do que o que se servir da lei e da coerção. Pois quem evita o injusto apenas por temor à lei, provavelmente cometerá o mal em segredo; quem, ao contrário, for levado ao dever pela convicção, provavel­mente não cometerá o injusto nem em segredo nem abertamente. Por isso, quem agir corretamente com compreensão e entendimento, mostrar-se-á cora­joso e correto de pensamento.
264- Não se deve temer mais aos outros do que a si próprio, como não se deve praticar o mal sob pretexto de que ninguém ou a Humanidade inteira o saberá. Muito mais, é a nós próprios que devemos temer, e nada de mal deve ser a lei da alma.
9- Em verdade, nada aprendemos que seja infalível, mas somente o que nos vem através da disposição momentânea do nosso corpo e dos átomos que nos atingem ou se lhe opõem.

[1] Todas as citações dos pré-socráticos, bem como a numeração correspondente, foram extraídas de BORNHEIM, G. (org.) Os filósofos pré-socráticos. 5" ed. S. Paulo: Cultrix, 1985
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FONTE (ARANHA, M.L.; MARTINS, M.H.P. Filosofando. S.Paulo: 2004, págs.118-119; FRANÇA, L. Noções de história da filosofia. R.Janeiro: Agir, 1949, págs.34 e 39; MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia. R.Janeiro: Jorge Zahar, 2005, págs.11-12; JAPIASSÚ, H., MARCONDES. Dicionário básico de filosofia. R.Janeiro: Jorge Zahar, 1996)

3 comentários:

  1. Muito bom....Parabéns!

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  2. Que tal uma analogia com os fragmentos citando alguns comentadores. Talvez, alguém que esteja iniciando na Filosofia consiga entender melhor com as ideias dos comentadores: Giovani Realle, Batista Mondim, Regis Jolivet .etc.
    Ficou bom.

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